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segunda-feira, 26 de março de 2012

Aborto: Como saber se é certo ou errado?

Relatos de um sobrevivente… 

O tema do aborto é um tema polêmico e largamente discutido, seja na imprensa, na arte ou na vida… os argumentos são fortes de ambos os lados, sejam dos “pro-aborto” ou dos “pro-vida”.

 Porém, o que mais nos intriga é que mesmo com tantas discussões ainda não tenhamos chegado a uma conclusão: aborto é certo ou errado? Nosso tempo é marcado por várias catástrofes, naturais ou humanas: Queda das torres gêmeas no 11 de setembro, Titanic, terremotos com o do Haiti, enchentes e desabamentos como as do Rio de Janeiro, o holocausto dos judeus no nazismo e etc.. e não é só interessante, mas é sempre muito importante ouvir o relato dos sobreviventes de situações que causaram a morte de seres humanos; às vezes, esses relatos se tornarão os melhores meios para evitar que desastres como aqueles aconteçam novamente…

Porém, eu, não estava no World Trade Center (11.set), nem nas enchentes do Rio de Janeiro, muito menos no Holocausto Judeu, mas também sou um sobrevivente… sobrevivente de uma catástrofe (humana) chamada aborto e este é o meu relato.

Antes de qualquer coisa quero dizer que “amo e sempre amarei minha mãe e meu pai” independente do que tenha acontecido.

Meus pais eram muito jovens quando se conheceram e logo se apaixonaram, porém, meu pai era casado e tinha duas filhas; toda situação havia se tornado pública na nossa cidade minha mãe tentou sair do relacionamento indo morar em Recife – PE.

Cerca de três meses depois, minha mãe estava no centro do Recife esperando para atravessar uma rua e exatamente na hora em que o semáforo fechou para os carros o primeiro carro a parar ali junto a faixa de pedestres era o do meu pai, eles não tinham combinado nada, ele nem mesmo sabia onde ela estava morando… depois desse reencontro eles se encontraram por mais duas vezes (em um desses encontros fui gerado).

Quando minha mãe descobriu a gravidez, pensou nas consequências e recebeu através de uma amiga um chá abortivo… ela tentou tomar, mas não conseguia… depois foi a um enfermeiro (tive a oportunidade de conhecê-lo) que fazia abortos clandestinos, mas ele não conseguiu fazer o aborto… depois, quando estava com uns três (3) meses na barriga da minha mãe o meu pai foi assassinado.

Ao saber disso, tentou se suicidar tomando vários remédios de uma vez só, uma tia minha chega a tempo e a leva para o hospital, lá fizeram uma lavagem estomacal e minha mãe (e eu) saímos do risco de morte. Porém, minha mãe ainda pensava em tirar a sua vida, pois achava que não fazia mais sentido viver… foi quando de repente, ainda no hospital o médico lhe diz, do nada… ” mãe não desista da vida, ele se foi, mas uma parte dele está aí em você é seu filho” a partir daquele momento minha mãe desistiu de tirar a própria vida e no dia 25 de janeiro de 1982 eu nasci.

Uma pessoa um dia disse: “padre eu pequei porque estou grávida”. “Ora” eu lhe disse, “não é pecado ficar grávida, mas no seu caso (era uma jovem), o pecado foi o que você fez para ficar grávida”; ninguém deve querer concertar um erro com outro. Outro dia, uma pessoa falando sobre gravidez na adolescência me falava de uma jovem que nós conhecíamos dizendo isso também “que pena que ela engravidou” e tentou explicar dizendo que era a hora erada e eu disse: “pois é, se eu não tivesse nascido na hora errada não teria me tornado um padre na hora certa”.

Se conversássemos com um sobrevivente do desastre do 11 de Setembro, o que você acha que ele diria sobre o “fanatismo religioso”? Se conversássemos com um sobrevivente dos desabamentos e enchentes do Rio de Janeiro o que você acha que ele diria sobre as políticas públicas do seu estado e do Brasil?

Se você ouvisse o relato de um sobrevivente do holocausto o que ele diria sobre a utopia científica e nazista da época? Convenço-me que todo sobrevivente é e sempre será a melhor opção para se ouvir e saber: Como é passar por aquele sofrimento?

Então se quiserem realmente saber se aborto é certo ou errado, mas que olhar para leis que podem ser mudados pelos interesses pessoais de homens ou mulheres, mais que perguntar sobre o “direito da mulher”, porque as próprias mulheres (meninas no ventre) também são assassinadas, e mesmo que não fossem mulheres, como no meu caso, o direito que elas tem de matar é maior que o meu de viver?

Mais que o olhar para os políticos, corretos ou corruptos, mais que olhar de uma forma negativa ou positiva para os religiosos, que muitas vezes são caricaturados por alguns orgãos de imprensa como alienados e retrógados, mais que perguntar ao STF, mais que perguntar a ONU, mais que perguntar aos médicos por possíveis enfermidades que justificariam a morte no ventre, mais que perguntar as mulheres estupradas se desejam abortar ou não ou as grávidas adolescentes ou pobres (financeiramente), mais que fazer um plebiscito para saber se os que estão fora do ventre são a favor do “holocausto silencioso*” (mesmo em caso de suposta doença ou estupro).

Mais que perguntar para qualquer um desses se vocês quiserem realmente saber se abortar é certo ou errado, perguntem então para um sobrevivente! Porque ninguém melhor que eles poderão lhes dar a resposta correta! E se somos sobreviventes foi por pelo menos um propósito… dar as vossas consciências, que sem dúvida estão em busca da verdade, a real e precisa possibilidade que ressoa do plebiscito dos ventres, como um grande coro de uma multidão de condenados sem crime que bradam, que gritam e que choram: “Aborto? Não!” Desses somos seus porta-vozes. Nós somos os sobreviventes.


Pe. Sóstenes Vieira

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